“Casualmente, nestes dias, eu li o relato que o grande escritor francês Julien Green faz da sua conversão. Ele escreve que, no período entre as duas guerras, ele vivia justamente como vive um homem de hoje: permitia-se tudo o que queria, estava acorrentado aos prazeres contrários a Deus, de modo que, por um lado, ele precisava deles para tornar a sua vida suportável, mas, por outro, achava intolerável justamente essa mesma vida. Procurou saídas, estabeleceu relações. Foi ao encontro do grande teólogo Henri Bremond, mas a conversa continuou no plano acadêmico, sutilezas teóricas que não o ajudaram. Instaurou uma relação com os dois grandes filósofos, os cônjuges Jacques e Raïssa Maritain. Raïssa Maritain lhe indicou um dominicano polonês. Ele se encontrou com ele e lhe descreveu também essa sua vida dilacerada. O sacerdote lhe disse: ‘E você, concorda em viver assim?’. ‘Não, é claro que não!’, respondeu. ‘Então, quer viver de um modo diferente. Está arrependido?’. ‘Sim!’, disse Green. E, depois, aconteceu algo de inesperado. O sacerdote lhe disse: ‘Ajoelhe-se! Ego te absolvo a peccatis tuis – eu te absolvo’. Escreve Julien Green: ‘Então, eu percebi que, no fundo, eu sempre tinha esperado aquele momento, sempre tinha esperado alguém que me dissesse: ajoelhe-se, eu te absolvo. Fui para casa: eu não era outro, não, eu finalmente tinha me tornado novamente eu mesmo'”
(Joseph Ratzinger, Opera omnia, 12, p. 781).
A tradução de Moisés Sbardelotto.