Por Sérgio Souza
“Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece”, Franz Kafka.
Qualquer sujeito que se interesse um pouco por comportamento já deve ter percebido que, com o advento da internet e das redes sociais, dois grandes problemas passaram a perturbar profundamente a vida humana. O homem tem suas pulsões e a era internética excitou duas delas: o desejo de conhecer e o desejo de prazer. Os dois problemas dos quais falo são, a saber, a pornografia e a dependência tecnológica (em games, em redes sociais, no simples navegar sem destino). A pornografia não é nenhuma novidade (está até no catecismo); mas agora, com celulares conectados, tornou-se quase um objeto do gênio da lâmpada: clicou, apareceu; ninguém mais sente falta da Playboy, que ainda permitia alguma pouca “contemplação”. Acontece agora no mundo um verdadeiro surto de compulsão por pornografia. Profissionais de saúde mental já sabem. Os consultórios estão cheios de gente reclamando disso. Em breve se multiplicarão clínicas para estas adicções.
Este tipo de vício age como uma doença silenciosa. O sujeito acha que está mergulhado em um oceano de prazeres (aqui vamos tratar só da pornografia), quando, na verdade, está com os dois pés chafurdados num pântano de areia movediça do qual dificilmente sairá sem derramar muitas lágrimas (esforço, sacrifício, abnegação, quedas). Já existem diversos estudos sobre isso, mas, basicamente, a pessoa fica viciada em pornografia porque o nosso cérebro tem um ritmo para “degustar” o prazer sexual e a pornografia oferece um deleite numa velocidade muito maior do que ele foi criado para processar. Resumindo: o cérebro sofre um bug e a pessoa fica condicionada a querer mais e mais, num ritmo que logo se torna frenético, em intervalos de tempo cada vez menores. Quando o cara (o homem é, naturalmente, muito mais inclinado à pornografia do que a mulher) se torna uma máquina de receber prazer, é óbvio, em pouco tempo o prazer passa a ter menos valor, e o tédio, o vazio e a frustração logo vêm tomar conta. É um movimento clássico. Os parceiros de quem está mergulhado neste mundo sofrem, porque não dão conta de oferecer essa enxurrada de adrenalina erótica. Os viciados sempre sofrem. É um jogo inumano.
Se for casado, o sujeito só se dará conta do estrago que a pornografia faz quando não conseguir mais transar normalmente com a mulher (a pornografia, associada comumente à masturbação, condiciona o sujeito a uma rapidez conhecida como ejaculação precoce). Ou quando a mulher já estiver transando com outro – ou com outra (este é o nosso mundo: “a fila anda” )- porque ele já não a procura há tempos. História muitíssimo contada nos consultórios e confessionários, com certeza. Quem desejar escrever uma história da vida privada neste sentido, encontrará material farto. Muito drama e pouca comédia. Infelizmente há pouco ou quase humor nenhum nestes ambientes. E onde não há alegria, não há prazer.
Como se vê, a explosão do prazer artificial degenera em angústia, tristeza e decepção. Não é questão de moralismo. Isso está acontecendo agora em muitos lares ao redor do mundo. É um drama. Mas nós não estamos aqui para ficar patinando no drama.
Há solução. E, claro, não é mágica, nem rápida. Exige tempo porque toda reeducação exige. Ninguém adquire cultura de uma hora para outra. Nenhum processo acontece da noite para o dia. E a luta para se livrar do vício em pornografia não pode ser uma luta com o inimigo face-a-face. É um lento processo de assimilação de uma “cultura” em substituição à outra. A pessoa habituou-se à cultura pornográfica, à uma mentalidade e um timing pornográficos. Esse ritmo e essas imagens consumidas diariamente por anos à fio formam uma cultura. Especialmente no homem o sentido da visão condiciona a imaginação. E como disse Santa Teresa a imaginação é a louca da casa. Livrar-se disso é uma pedagogia. Melhor, uma terapia. Uma sessão de terapia resolve o problema? Claro que não! O segredo da terapia é a constância, a prática diária, a aplicação dos exercícios. Aristóteles disse algo mais ou menos assim: “Nós somos o que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito.” Claro, deve-se partir sempre de Cristo e é a Graça do Espírito Santo que realiza tudo. Aliás, nunca gosto de ser autorreferente, mas esse texto aqui deveria ser precedido de um outro que escrevi/organizei: “Notas e citações sobre um cristianismo meramente cultural”.
Também temos a consciência de que a aquisição de uma cultura mais bela e menos pornográfica é fundamental, mas não basta. A vontade continua ligada ao hábito ruim. O dependente precisa fazer certas coisas também. Quanto a isso, sugerimos aos leitores acompanharem os artigos sobre pornografia do professor Robson Oliveira, que também estão sendo publicados por aqui.
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Você já teve a curiosidade de observar o dia-a-dia de um monge ou de um mosteiro? Pode parecer loucura dizer isso para os homens em pleno século XXI, mas a vida monástica é fascinante. Se você quer conhecer um pouco mais de perto como a coisa funciona, o pessoal do Minha Biblioteca Católica lançou um livro e produziu uma série sobre o tema. Como não poderia deixar de ser, sugerimos também a autobiografia do monge trapista Thomas Merton, chamada “A Montanha dos Sete Patamares”. Mas o que há de tão fascinante na vida monástica?
- Thomas Merton
- Publisher: Petra
- Edition no. 1 (07/20/2018)
- Capa comum: 512 pages
Um monge é um cristão que resolveu seguir a Cristo mais de perto. A tradição monástica cristã tem uma experiência quase bimilenar. Os monges são homens que vivem em profundo silêncio, buscando a via contemplativa e, para tanto, usando os meios próprios de sua tradição: oração, silêncio, ritmo, liturgia. Se você parar um pouquinho para estudar e assistir a filmes e documentários sobre a vida monástica logo entrará no clima.
Não vou dar um curso de reeducação do imaginário. O itinerário que vou propor aqui para quem está nesta luta contra a pornografia é basicamente mergulhar na vida cristã (que na tradição monástica é feito de modo mais intenso): frequentar os sacramentos, rezar, contemplar os ícones, participar da liturgia, rezar o terço, fazer a leccio divina, fazer adoração silenciosa ao Santíssimo Sacramento, rezar diariamente a liturgia das horas, ler a vida dos santos, os Santos Padres, os grande autores espirituais. Não é preciso matricular-se num curso, ler os “great books” indicados por Mortimer Adler, mergulhar nos clássicos, readquirir uma mentalidade simbólica e uma cosmologia medieval. Tudo isso pode ser muito bom, mas não é essencial para uma pessoa ser cristã.
(…)
Um dos efeitos mais impressionantes causados pela reeducação do imaginário – a esta reeducação passa, repetimos, pela aquirição de uma cultura – através da contemplação da beleza é o repúdio quase ‘natural’ da pornografia e da vulgaridade sexual que ela causa no indivíduo. É um caminho realmente terapêutico. O que antes atraía, passa a ser repulsivo. É claro que esta atração (da sexualidade) está inscrita na natureza do homem. Mas o caso é que a modernidade retirou o véu do mistério, vulgarizou a sexualidade e retirou todo resquício da beleza sublime própria da união entre o homem e a mulher. Quem quiser entender o que perdemos é só dar uma olhada no Cântico dos Cânticos (e o efeito avassalador de sua leitura na obra de místicos como Teresa de Ávila e João da Cruz). A beleza do sexo é arrebatadora. O que a educação da imaginação (e quem entende desses paranauês é Francisco Escorsim – quem se interessar, vale a pena procurar pelos cursos e aulas) pode fazer – e essa é só uma de suas vantagens – é, em certo sentido, a reabilitação da beleza sexo.
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Em um segundo artigo, a ser publicado em breve, continuaremos a tratar do tema.

Em breve estará disponível o novo Ebook do Professor Robson Oliveira sobre o tema, receba gratuitamente “7 Primeiros Passos no Combate à Pornografia” cadastrando-se no formulário abaixo.