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O Santo Rosário (Meditações)

MISTÉRIOS GOZOSOS

1.Anunciação a Maria 

No dia da Anunciação Deus quis depender como nunca do consentimento de um ser humano para operar sua graça. Talvez tenha sido o momento para o qual a história existiu e para o qual se dirigia: a plenitude dos tempos. Maria, no drama da salvação,  parecia ser daquelas personagens destinadas ao segundo plano, como Sancho Pança e Frodo Bolseiro, mas em cujos corações se desenrolava, silenciosa e misteriosamente, o centro da história. No ventre de uma mulher, os tempos ficaram maduros.

2. Visitação de Nossa Senhora a sua prima Isabel 

Logo depois do mistério união hipostática  – a união do divino e humano em na pessoa de Jesus Cristo – haver ocorrido em seu seio, a Virgem Maria vai realizar uma das tarefa mais simples e comuns da vida de uma mulher: visitar uma parente grávida. O eterno toca o tempo através dos gestos aparentemente corriqueiros. Por detrás de cada pequeno dever discorre a vontade divina.

3. Nascimento de Jesus 

Jesus, rei do universo, o Verbo que sustenta a criação, nasce em um estábulo, cercado de  “anawins”, uma pequena igreja de gente simples de seu próprio povo, pastores e trabalhadores, que testemunham o centro da história da salvação, no meio dos animais e de suas atividades tão comuns. Se a natureza guarda uma reverência silenciosa, os céus se rasgam louvor angelical: Glória nos mais altos céus. Do estrangeiro, vieram reis e magos. Céus e terra adoram o rei menino. “O tempo esconde o que é eterno” (Emmir Nogueira).

4. Apresentação do Menino Jesus no Templo

Maria é a pobre que não tem mais do que pombinhas para oferecer, mas devolve ao Senhor o seu Menino, que é e não é seu. A mais pobre e a mais agraciada de todas as mulheres. Não tem nada e possui tudo. Maria é a casta que, imaculada, se submete à  purificação ritual no templo. Maria é a obediente que, tendo nos braços as primícias de uma nova aliança a ser inscrita nos corações dos homens, acata com humildade a lei mosaica, a tradição e a liturgia sagrada de seu povo. 


5. Perda e encontro do Menino Jesus no Templo

Cristo, na dolorosa pedagogia de seu crescimento (” em estatura, em sabedoria e graça”) ensina aos homens, a partir de seus próprios pais, que as coisas deste mundo, inclusive o parentesco familiar, estão submetidas ao Mistério de Deus. José e Maria são o protótipo dos crentes que aprendem sem compreender (“Eles, porém, não compreen­deram o que ele lhes dissera.”), mas “guardam tudo no coração.”

MISTÉRIOS LUMINOSOS

1. Batismo de Jesus no rio Jordão

Por que, sendo imaculado, Cristo entra na fila dos pecadores para receber o batismo de penitência de João?Era uma antecipação da cruz, na qual assumiria definitivamente o lugar dos pecadores para que, no batismo sacramental, tivessem paz com Deus.

2.Auto-revelação de Jesus nas Bodas de Caná

 No primeiro milagre,em Caná, Cristo não deixa dúvidas de que é o Filho de Deus.É sua auto-revelação. Onde o milagre se manifesta, sobretudo nos impressionantes milagres eucarísticos,no manto de Guadalupe ou nos corpos incorruptos dos santos,Jesus diz:“Sou Eu”.

3. Anúncio do Reino de Deus. 

Cristo não apenas prega uma mensagem, Ele é a Palavra. É o Verbo Divino feito carne que se deixa tocar e toca, age, cura, explica as escrituras cumprindo-as. “Ninguém jamais falou como este homem!”. Um encontro com Cristo dá a vida um rumo decisivo.

4, Transfiguração de Jesus

Na Transfiguração, Cristo mostra a glória escondida em sua humanidade. Mostra também que a glória da criação habita o Filho de Deus. Ao mesmo tempo, diz que é preciso, antes da glória, descer à planície para subir outra montanha: o Calvário.

5, Instituição da Eucaristia

Na Instituição da Eucaristia, Cristo condensa e recapitula, redimindo toda a história em um memorial que paira acima dos tempos. Cristo dá livre acesso a Deus e torna seu Sacrifício presente aos homens de todos os tempos.

“A última ceia”, Salvador Dali


MISTÉRIOS DOLOROSOS

1) Agonia de Jesus no Horto

Jesus passa pelo mistério da pirâmide invertida. Todo o peso do mundo pressionando um único ponto: sua pessoa. Como a oliva esmagada produz o azeite, o corpo de Cristo  esmagado pelos nossos pecados verte o sangue e a água da nossa salvação. 

2) Flagelação de Jesus

Em “The Passion” (Mel Gibson), há uma cena emblemática. Depois da flagelação, Nossa Senhora e Madalena recolhem, com panos, todo o sangue derramado do corpo de Jesus pelos carrascos. Nenhuma gota do preciosíssimo sangue deve perder-se. “O sangue de Cristo é a prenda do amor fiel de Deus pela humanidade.” (Bento XVI)

3) Coroação de Espinhos

Georges Rouault pintou um quadro retratando a coroação cujo título em inglês é  “The fool” (“O tolo”). Cristo aparece totalmente impotente e entregue ao escárnio dos homens. Parece um bobo, um palhaço. E, no entanto, guarda a dignidade de um Salvador, consciente de sua missão e a levando até às últimas consequências. 

4) Jesus carregando a cruz no caminho do Calvário

Numa canção popular, o compositor coloca na boca de um amante: “Nenhum Deus nos altos céus, nenhum diabo sob o mar, poderia fazer o trabalho que você fez, querida: me colocar de joelhos”. (Nick Cave, “Brompton Oratory”). Don Giussani, ao contemplar o caminho da cruz, pergunta: “Esse Homem dá tudo por nós, e nós devemos deixá-lo por outro amor?” (Luigi Giussani, “O Santo Rosário”)

5) Crucifixão e morte de Jesus

Não há amor sem morte. Não há maior amor do que o que dá a vida. Quem dá a vida até às últimas consequências, morre. Só Cristo é capaz de dar a vida e retomá-la. Mas antes de ressuscitar, precisa passar pela morte. E a morte de um Deus abala os alicerces da criação, justamente porque a morte não pode retê-lo. Nietzche só falou da morte de Deus de maneira figurada; falava da morte de um Deus que nunca existiu, uma ilusão.  Na vida de Cristo, a entrega total na cruz é o evento sofrido por um Deus, que, sendo o Ser, e ato puro, entra no tempo e submete-se à humanidade no seu termo mais extremo e dramático: a morte. E sai vencedor. 

MISTÉRIOS GLORIOSOS

1.Ressurreição de Jesus

 Se Madalena fora a primeira a ver o Ressuscitado, outra Maria, a Mãe do Salvador, o soubera primeiro, pela fé silenciosa, no coração. Mesmo diante da cruz, a Pietá cria que “Seu Reino não teria fim” e que Ele ultrapassaria a barreira da morte.

2. Ascensão de Jesus ao Céu

O Cristo sobe ao Pai e leva a nossa humanidade ao seio da Trindade Aqui deixa um Corpo que não mais se pode ver, senão pela fé. Depois de sua Ascensão só veremos  os “vestígios de suas pegadas” (São João da Cruz). Nunca um Ausente preencheu tanto o mundo de Presença.

3. Vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos

Com as portas abertas pela Redenção,o Espírito Santo faz morada no coração humano. Agora é o Espírito que irrompe no íntimo do homem e o faz livre, filho de Deus. Não há mais somente uma norma dura que oprime, mas um impulso interior que direciona o homem para o amor,que ultrapassa a lei.

“Pentecost 2” , William Congdon


4. Assunção de Maria

“Olhou para a humildade de sua serva”. Em Maria, a palavra de Santa Teresa se realiza: “A humildade é a verdade”. Nossa Senhora calou-se, escondeu-se,  humilhou-se e foi humilhada. O seu Fiat abriu deu liberdade à vontade divina, que exalta os humildes. É assim que entendemos a sua Assunção. Quem se deixa conduzir por Deus só pode subir… O caminho de Maria, como disse Henri Nouwen, é o da “elevação descendente”.

5. Coroação de Maria no Céu

A Coroação de Maria mostra ao quanto de dignidade Deus elevou o ser humano, por amor. “Pouco menor do que os anjos”, o homem é o objeto privilegiado do amor de Deus. E a Virgem Santíssima, pelo seu sim à Palavra de Deus e digníssima vocação de mãe do “Filho do Altíssimo”, cujo “reino não terá fim” recebe das mãos do Senhor a graça de ser Mãe e Rainha do Universo.


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