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Semana Santa, Quinta-Feira

A Quinta-Feira Santa é o dia da Instituição da Eucaristia. A Eucaristia é o Sacrifício de Cristo atualizado. Entendi isso quando um missionário explicou-me que a Missa “representa” o Sacrifício de Cristo. De início, foi um choque, esta palavra: o verbo representar passa uma idéia de falsidade, de atuação, são os atores que representam. Mas ele aprofundou: representar, no sentido de “tornar presente de novo”. RE-PRESENTAR. Este é o grande milagre da Eucaristia, desde a Última Ceia, no qual o Sacrifício do Calvário, que aconteceria na Sexta-feira (amanhã) é misticamente antecipado, este MESMO SACRIFÍCIO é tornado presente, é atualizado, a cada missa. A Última Ceia é a primeira Santa Missa.

Tenho o privilégio de participar de uma paróquia que é, ao mesmo tempo, um santuário. O Santuário do Santíssimo Sacramento, em Cantagalo-RJ. Em nosso Santuário, sobre o altar, há dois belíssimos quadros. Acima, a crucifixão, com Nosso Senhor acompanhado de Sua Mãe e São João; logo abaixo, a Última Ceia. O que acontece no Altar do Sacrifício está retratado, pela fragilidade da mão humana, nas paredes de nosso templo… Aliás, a nossa Igreja, como não poderia deixar de ser, é profundamente eucarística e franciscana. Nas laterais, estão pintados os milagres eucarísticos de Santa Clara, que com o cibório, expulsa os sarracenos que querem invadir seu convento e o singelo milagre do burrinho ajoelhado diante do Santíssimo Sacramento nas mãos de Santo Antônio.

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A Eucaristia é também o supremo gesto de um Deus que foi ao extremo para servir ao homem. Não é a toa que a liturgia colocou o “evangelho do lava-pés” (Jo 13,1–15) justamente no dia da instituição da Eucaristia. Jesus lava os pés dos apóstolos; lava os pés de Judas, que está com o coração tomado por Satanás. Assim é o serviço de Jesus: para todos. “Por vós e POR TODOS para a remissão dos pecados…” E Nosso Senhor deu o exemplo para que o seguíssemos:

“Compreendeis o que acabo de fazer? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz.” (Jo 13,12–15)

O Cardeal Martini diz que nunca devemos participar da missa sem nos perguntar pelo sentido de nossa vida, por nossa vocação, sobre como vamos servir ao nosso próximo a partir daquela liturgia. A expressão latina que é usada no fim da celebração: “Ite, missa est” que literalmente significa, “Ide, a missa está terminada” e hoje é traduzida por “Ide em paz…”, também pode significar, “Ide, vá levar o que recebeu na missa ao seu irmão, aos que encontrar pelo caminho…”

A vida eucarística é também vida missionária por excelência.

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A eucaristia é sacrifício e serviço. Homem algum que chegar a compreender o que acontece na missa poderá dizer que não sabe o que é o amor.

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Encerramos esta reflexão com uma belíssima reflexão sobre o Amor de Deus na Eucaristia, por Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja:

– “Pai, acabei a obra que me deste para fazer; volto para Vós. Mas será preciso deixar meus irmãos? Meu coração não se pode resolver a fazê-lo. Fiz-me semelhante a eles, passei por todos os seus caminhos; minha mão abençoou-os, minha palavra consolou-os, meus olhos derramaram lágrimas de compaixão sobre suas misérias, meu coração comoveu-se, entristeceu-se, alegrou-se com eles… Mas, posso eu limitar meus benefícios aos trinta e três anos de minha vida e somente ao povo judeu? Não é preciso que os que crerem em mim no decorrer das idades possam achar em seu Salvador um amigo, um companheiro sempre presente? Pai, aceitai que eu perpetue minha presença aqui na terra sob a forma de um Sacramento”.

– “Pensa, meu Filho, que para isto será necessário que abdiques não somente à tua glória divina — como na Encarnação — mas também mesmo à tua dignidade exterior e a teu prestígio humano; será preciso que assumas o estado humilhante de uma coisa inerte que estará a mercê de todos, muda e sem defesa. Até tua honra ficará comprometida!”

– “Pai, tenho sede de humilhações ainda mais inauditas que as de minha vida mortal. Os homens não viram ainda as profundezas de meu amor por eles; vendo-me descer tão baixo, eles compreenderão e se sentirão tocados!”

– “Mas terás que sofrer, da parte do maior número, a indiferença, a frieza, o abandono, o esquecimento; os hereges levantar-se-ão para negar tua presença real; os ímpios lançar-te-ão em rosto o escárnio e a blasfêmia; novos Judas entregar-te-ão com um beijo sacrílego a ignóbeis inimigos, que pisarão com os pés a Hóstia santa, entregá-la-ão às chamas e fá-la-ão servir — ó horror! — às suas devassidões e malefícios!”

– “Pai, aceito tudo isto. Amo meus irmãos e irei até os extremos limites da dedicação e do sacrifício para lhes provar… Meu amor triunfará do ódio deles, de sua dureza e de sua ingratidão!”

– “Mas, pensa, meu Filho, que aqueles mesmos aos quais queres dar esta prova de ternura, e aos quais encherás de graças privilegiadas e que se dirão teus amigos, só terão muitas vezes, para com teu Coração Eucarístico, insensibilidade e tibieza; aproximar-se-ão dos teus altares com um resto de coração mal guardado contra as distrações, o sono e o tédio, ou então te deixarão sozinho em tua prisão de amor, como um estranho, como um pobre de quem não se faz caso!

– “Esta ferida, a mais cruel de todas, eu também a aceito, ó Pai… Beberei até o fim dos tempos estas gotas particularmente amargas do cálice de minha paixão eucarística, se for preciso; porque tenho piedade dos homens e quanto mais miseráveis são, tanto mais lhes quero fazer bem. Eles são menos culpados que desgraçados. E eu entrevejo, no tempo distante, um grande número de almas para as quais minha presença real será um benefício incomparável! Seu amor me indenizará das ingratidões da maioria. Pai, mesmo que só houvesse uma alma, uma só, para beneficiar com este dom, e render-me graças, mesmo assim eu queria tornar-me sua Hóstia!”

(Santo Afonso de Ligório)

Semana Santa, Quinta-Feira II (Instituição do Sacramento da Ordem)

Jesus nunca quis uma “igreja dos perfeitos”… No texto do evangelho de hoje, ajoelha-se para lavar os pés de Judas, o traidor e de Pedro, que iria lhe negar por três vezes. Os apóstolos, que iriam dormir no Getsêmani e depois, um a um, fugiriam, deixando-o sozinho… São os primeiros sacerdotes da Igreja, pois nesta mesma Ceia da instituição da Eucaristia, foi instituído o Sacramento da Ordem.

Cristo confiou em seus amigos, não obstante a sua fraqueza.

Os padres são “outros cristos”, são escolhidos por Jesus, agem “in persona Christi”. Pobres daqueles que não são amigos dos padres… Há algum tempo, ouvi de um homem sábio:

– Quer ficar santo? Seja amigo dos padres…

É com muita tristeza que vejo grupos ‘católicos’ dizendo que não se deve confiar nos padres, que não há padres bons no Brasil… Isso não é verdade. A realidade do pecado está presente, pois onde há homens, há a fraqueza ,.. Mas existem muitos padres bons, sacerdotes dedicados, zelosos, inteligentes, estudiosos, devotos, piedosos e sábios.

Rezemos hoje pelos nossos padres. Não fuja da sua paróquia para procurar o padre perfeito, a liturgia perfeita… O seu padre é aquele que Deus escolheu para a sua paróquia.

Ame o seu padre! É através de sua voz, “muitas vezes rouca e cansada” e de suas “mãos trêmulas”, como dizia meu antigo e saudoso pároco, Monsenhor Antônio Stael, que Jesus se dará a nós hoje em nossos altares.

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“Quando Cristo, num momento simbólico, estava estabelecendo Sua grande sociedade, Ele escolheu para sua pedra fundamental não o brilhante Paulo, nem o místico João, mas um embusteiro, um arrogante, um covarde — em uma palavra, um homem. E sobre aquela pedra Ele construiu Sua Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Todos os impérios e reinos fracassaram, por causa dessa inerente e contínua fraqueza: eles foram fundados sobre homens fortes. Mas essa coisa única, a Igreja Cristã histórica, foi fundada sobre um homem fraco, e por esta razão é indestrutível. Pois nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco.”

(G. K. Chesterton)

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