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Ouro Preto, um poema para rezar

O poeta é aquele que dá voz aos sem-voz.

O tema latente, preso na garganta, agarrado nas profundezas, mas sem palavra que o expresse, vem à tona quando o poeta se manifesta. Quantos não são aqueles, que diante de Deus, tem o coração a pulsar, as mãos postas, e até a boca aberta, mas não conseguem uma míngua de comunicação? Este poema de Igor Barbosa, que hora publicamos, e que fará parte de seu próximo livro, tem exatamente este dom de dar voz aos sem-voz, de fazer o coração derramar-se diante de Deus, numa oração, límpida e firme, cheio de verdade e piedade. “É um poema que faz rezar”, disse-me uma mulher, depois de lê-lo. Mas não se engane, Igor não é um poeta-carola, ele é está mais para um louco-em-Cristo ou um filho de Gregório de Matos, o Boca do Inferno. Mas, recomendo: reze este poema.

Ouro Preto

Senhor, quando eu puder lavar as mãos
e retirar de mim toda partícula
do que nunca foi meu, e o teu perdão
vier lavar em mim toda a malícia,

como o suor se torna na canícula
uma camada de vapor, deixando
mais sólido o que é sólido e lustrando
o superficial que brilha à vista,

fazei-me, se quiseres, teu minério,
teu minério invertido: Dai-me ao chão.
E não me venha ao corpo a picareta:

Deixai-me ser ali uma direta
pedra vulgar, exceto pela unção
que é viver oculto em teu mistério.


Igor Barbosa é autor de:

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